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domingo, 8 de junho de 2014

Porque Thelema é Foda

Porque thelema É foda



Um artigo de IAO131 sob o título: WHY THELEMA KICKS ASS
Tradução para o Português de Sor. Psilax com permissão do autor.


Uma questão que eu tenho ouvido de amigos e que eu frequentemente pergunto para mim mesmo é, “Por que Thelema?”, Por que não identificar-se com quaisquer outras religiões e filosofias? Eu quero explicar porque eu acredito no poder de Thelema como uma regra de vida e consequentemente por que eu acredito que Thelema continuará crescendo.
I.          Faça o Que Tu Queres
O ponto mais fundamental é que nós temos uma certa Lei sob a qual tudo mais está submetido: Faça o que tu queres. É a simples sublimidade desta infraestrutura espiritual que diferencia Thelema das várias religiões New Age (ou espiritualistas) que são caracterizadas pela natureza amorfa e falaciosa de suas crenças assim como as religiões do Velho Aeon que são caracterizadas por seus rígidos dogmatismo e sectarismo. A Lei da Liberdade é de tão longo alcance que ele tem implicações em todas as facetas da vida incluindo metafísica (como uma filosofia), ética (como um modo de vida) e teologia (como uma religião), mas é tão elegante que pode ser resumida em uma única palavra, Thelema.

II.         Tolerância

A fundamental Lei de Thelema é “Faça o que tu queres” que é uma exortação radical para cada indivíduo explorar e expressar sua verdadeira natureza seja ela qual for. Fundamentalmente, nós como Thelemitas defendemos o direito de todos serem o que eles são. Isto envolve uma revolucionária forma de tolerância ou aceitação da diversidade. Thelema em si mesma é parcialmente o resultado de um sincretismo de muitas religiões e filosofias. É dito no Livro da Lei, “Aum! Todas as palavras são sagradas e todos os profetas verdadeiros, salvo apenas que eles compreendam um pouco”. Nós também podemos encontrar referências de ideias judias, cristãs, mulçumanas, egípcias, gregas, herméticas, budistas e hindus dentro do Livro da Lei em si mesmo, sem mencionar os outros Livros Sagrados e escritos por Aleister Crowley. Isto mostra a capacidade de Thelema de apreciar as verdades que são encontradas em diversas ideologias em todo o mundo e ao longo da história.

Nosso sincretismo eclético não é arbitrário, na medida em que tudo gira em torno do núcleo de “Faça o que tu queres”: fios são recolhidos de todos os cantos da existência humana para ser tecido em conjunto através da harmonia expressa na palavra da Lei que é Thelema. A aceitação tolerante de diferentes pontos de vista é o que distingue Thelema de virtualmente cada outra religião que tem aparecido na história humana. Isso pode ser visto muito explicitamente na declaração dos direitos do Homem em “Liber Oz”, onde está escrito: “O homem tem o direito de viver por sua própria lei – de viver da maneira como ele quer”.

Nós somos radicais em nossa aceitação dos outros como eles são, contudo eles podem pensar, falar ou agir, mas também podemos pegar armas contra o dogmatismo, preconceito e superstição que impedirão a plena expressão da liberdade da humanidade. Isto está encapsulado em uma citação onde Crowley escreve: “Cada Estrela tem sua própria natureza, que é “Certa” para ela. Não devemos ser missionários vestidos com os padrões de ideais e moral, e tais ideias rígidas. Nós fazemos nossa Vontade e deixamos que os outros façam a Vontade deles. Somos infinitamente tolerantes, livres da intolerância”.

III.        Religião Científica

Thelema é completamente contra superstição e dogmatismo que são obviamente uma parte de varias religiões e filosofias do passado. Não argumentamos sobre quantos anjos cabem na cabeça de um alfinete, qual cor de roupas cria mal karma num determinado dia, quantas vezes um mantra precisa ser repetido para agradar um deus, ou quais ações serão favoravelmente julgadas por um Deus Gasoso Todo Poderoso sentado nas nuvens.

Isto tem implicações em termos de ações (moralmente) e pensamentos (filosoficamente). Moralmente, nós dissemos, “Faça o que tu queres há de ser o todo da Lei”; isso coloca a responsabilidade nos indivíduos para encontrar o que é certo para eles sem referência a quaisquer ameaças teológicas da vergonha e da culpa do pecado, do fogo eterno do inferno da condenação, de uma resposta desfavorável de um deus, ou mesmo de ter uma reencarnação como um inseto. Filosoficamente, não afirmamos qualquer coisa que é flagrantemente contraditória com base no conhecimento da humanidade, especialmente em termos da ciência moderna. Há uma abundância de casos de pessoas que deliberadamente negam a evidência de coisas tão fundamentais como a evolução ou a teoria dos germes. Por exemplo, não é difícil encontrar exemplos na América de teologia velada sendo empurrado nas escolas sob o disfarce pseudocientífico de “Modelo de Inteligência”. Histórias de pessoas – inclusive crianças – que morreram porque seus pais não acreditavam na capacidade da assistência médica. Em contraste, Thelema é uma “religião científica” que fala com as vicissitudes da experiência humana que muitas vezes chamamos de “religião” ou “espiritualidade”, mantendo-se fiel ao progresso do conhecimento humano, que muitas vezes chamamos de “ciência”. A great article (ainda sem tradução para o português) foi recentemente escrito sobre como Aleister Crowley previu Thelema como uma religião científica que eu recomendo caso você se interesse em saber mais sobre este aspecto particular da Lei da Liberdade.

Além disso, Thelema é uma religião humanizada: colocamos a meta de nossa aspiração dentro de nós mesmos e aceitamos os outros como eles são. Como já escrevi em outro lugar: no Aeon de Isis, o foco foi a Natureza, no Aeon de Osíris o foco era Deus, e agora no Aeon de Hórus o foco é o Homem, o indivíduo. Nosso Objetivo é a expressão mais completa de nós mesmo na Verdadeira Vontade, o nosso Caminho é para a totalidade mais profunda de nós mesmos, e nossa Comunidade não está no Paraíso, nem em deuses ou semideuses, ou em algum plano do “Além”, mas sim os homens e mulheres aqui sobre a Terra. Este ideal está encapsulado na poderosa frase, “Não há deus senão o homem”.

IV.        Abraçando o mundo ao mesmo tempo em que transcende o materialismo

Thelema abraça o mundo na medida em que nós não acreditamos que prazeres sensuais são demoníacos ou maus, e não acreditamos que existência ou encarnação ou consciência é algo para ser aniquilado ou transcendido. Esta atitude está encapsulada no Livro da Lei onde está escrito, “Seja forte, oh homem! Arda, usufrua todas as coisas de sentido e êxtase: não tema que qualquer Deus te negará por isso”. Como eu tenho dito em outro lugar: A Terra não é uma prisão, mas um templo onde o sacramento da vida pode ser promulgado; o corpo não é corrupto, mas um vaso próspero e pulsante para a expressão da Energia; sexo não é pecaminoso, mas um condutor misterioso de prazer e poder assim como uma imagem da natureza extática de toda Experiência.

Enquanto abraçamos o mundo, não caímos na armadilha do materialismo mesquinho. Isto é visto em nossa distinção entre querer – os nossos desejos conscientes, os desejos e caprichos que constantemente vêm e vão – e a Verdadeira Vontade. Nós abraçamos o mundo não para ter mais, ou maiores ou coisas brilhantes, mas como uma expressão de nossa natureza e a celebração da alegria da existência. Esta ideia foi tratada com mais profundidade num outro artigo recente, que pode ser lido caso você queira saber mais sobre este assunto em particular.

V.         Sexualidade

De acordo com o que foi dito antes sobre tolerância e aceitação, Thelema especificamente abraça todas as formas de identidade, orientação, exploração e expressão sexual que está de acordo com a Vontade do indivíduo. Thelema é um modo de vida que explicitamente encoraja as pessoas a ser o que elas são sexualmente, e não para viver de acordo com algum padrão ditado pela religião ou sociedade. Não vemos qualquer particular identidade de gênero ou de orientação sexual como mais natural ou superior de qualquer modo. A melhor identidade é a que mais claramente e plenamente é uma expressão de sua natureza. Nós vemos isso encapsulado no Livro da Lei onde está escrito, “tomai vossa fartura e vontade de amor como vós quiserdes, quando, onde e com quem quiserdes!”.

Crowley estava muito à frente de seu tempo, desta forma, por exemplo, ele escreveu no início do século XX, “A Besta 666 pela Sua autoridade ordena que todo homem e toda mulher, e cada indivíduo bi e homossexual, deve ser absolutamente livre para interpretar e comunicar seu Self por meio de qualquer prática sexual, direta ou indiretamente, racional e simbólica, fisiologicamente, eticamente, ou religiosamente aprovada ou não, contanto que todas as partes em qualquer ato estejam plenamente conscientes de todas as implicações e responsabilidades dos mesmos, e concordam plenamente com os mesmos”. Devemos nos lembrar de que – como um exemplo muito pequeno – mais de meio século depois, a Associação Americana de Psicologia parou de rotular a homossexualidade como uma forma de doença mental. Nós, como Thelemitas assumimos a bandeira da aceitação das pessoas como elas são não importa como elas podem optar por definirem-se e expressarem-se sexualmente.

VI.        Drogas

Thelemitas não evitam o uso de álcool e drogas com base em fundamentos filosóficos, morais ou teológicos. Thelema não tem proibições contra as drogas (ou nada, na verdade), desde que o que você esteja fazendo esteja de acordo com sua Vontade. Isso exige que as pessoas assumam a responsabilidade por suas escolhas. Eu frequentemente penso que vale dizer: “Faça o que tu queres... e arque com as consequências”, porque dizer: “Não há nenhuma lei além do Faze o que tu queres” não dá nenhuma forma de te absolver das consequências de sua ação; a lei de Thelema de nenhum modo revoga a lei de causa e efeito. O abuso de uma substância pode levar ao vício, o mau uso de uma substância pode levar a um desequilíbrio mental, e o uso consciente de uma substância pode levar a saltos imensos em autoexploração e autocompreensão. Cabe a cada um se informar sobre o uso de drogas e fazê-lo de modo responsável com a intenção de encontrar, explorar e expressar suas verdadeiras naturezas.

Numa época em que o uso de drogas psicodélicas só foi realmente explorado pelo seu potencial terapêutico nos últimos 5-10 anos, esta é também uma abordagem radical para as drogas. Temos o próprio vício de Crowley, a história do excesso e abuso de drogas, como pode ser visto estereotipado no final dos anos 60 e, possivelmente, as nossas próprias experiências e daqueles que nos rodeiam para nos alertar sobre o abuso de drogas. Por outro lado, temos sucessos próprios de Crowley, uma longa história de sucesso da experimentação com drogas, bem como nossas próprias experiências e daqueles que nos rodeiam para nos lembrar do potencial distinto do uso de drogas em harmonia com nossas Vontades. Clique aqui para ler mais sobre a abordagem de Thelema em relação as drogas.  
VII.       Aleiter Crowley
Eu acredito que Aleister Crowley é exatamente o profeta que nós precisamos nesta época e dias por uma razão fundamental: ele era um ser humano. Ele era um gênio, mas ele era um ser humano (apesar de suas tentativas em ser lembrado como um mito solar!). Crowley extrapolou os limites em praticamente todas as categorias de vida e para que pudéssemos admirá-lo desse maneira, mas também vemos coisas que nos desafiam. Crowley jogou com praticamente todos os tabus que pudesse encontrar e, dessa forma, ele nos desafia a enfrentar nossos próprios demônios e encontrar nossas próprias crenças sobre como devemos viver. Nossa reação à Crowley pode ser visto como um microcosmo de nossa reação a tabus em geral. Esta é uma tarefa importante, em que cada indivíduo pode se envolver: o que Crowley fez ofende particularmente nossos sentimentos? Em quais coisas ele foi “longe demais” ou “demasiado”, e – mais importante – examinar por que você acredita que ele foi longe demais. Desta forma, ao estudar a nossa reação ao profeta de Thelema que podemos aprender mais sobre os nossos próprios pontos cegos, limites e fronteiras.

O comportamento às vezes ultrajante de Crowley também nos lembra de que não devemos o imitar de qualquer maneira; que nós devemos encontrar nosso próprio caminho. É sobre isso que Thelema trata. Thelemitas estão unidos em uma busca mútua para encontrar nossos Eus. Não estamos todos tentando ser Crowley como cristãos tentam ser como Cristo ou budistas como Buda; todos nós estamos tentando ser quem realmente somos e é isso o que nos diferencia.

VIII.      Alegrai-vos!


Num documento que eu acredito que cada Thelemita deveria ler por sua clareza e contundência, Crowley escreveu que um de nossos deveres é “Alegrai-vos!” Thelema é uma religião de alegria e beleza. Humor é nossa armadura e os risos a nossa arma. Já não olhamos para a solenidade e autoanulação, como sinônimos de espiritualidade. Thelema é uma lei da liberdade que possui as chaves para destravar o potencial inato de cada indivíduo, para nos libertar do fardo de tristeza e medo, e nos permitirmos sermos nós mesmos e nos alegrarmos nisso. Como diz o Livro da Lei: “Lembrar todos vós que a existência é pura alegria”. E com este conhecimento, podemos conscientemente e voluntariamente nos engajar nesse último sacramento que conhecemos como existência. Por isso, digo com Crowley: “Olhe, irmão, nós somos livres! Alegre-se comigo, irmã, não há nenhuma lei além do Faça o que tu queres!”.

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