Um artigo de IAO131 sob
o título: WHY THELEMA KICKS ASS
Link para o original: http://iao131.com/2012/07/04/why-thelema-kicks-ass/
Tradução para o
Português de Sor. Psilax com permissão do autor.
Uma questão que eu tenho ouvido de amigos e que eu
frequentemente pergunto para mim mesmo é, “Por que Thelema?”, Por que não
identificar-se com quaisquer outras religiões e filosofias? Eu quero explicar
porque eu acredito no poder de Thelema como uma regra de vida e
consequentemente por que eu acredito que Thelema continuará crescendo.
I.
Faça
o Que Tu Queres
O ponto mais fundamental é que nós temos uma certa Lei sob a
qual tudo mais está submetido: Faça o que tu queres. É a simples sublimidade
desta infraestrutura espiritual que diferencia Thelema das várias religiões New
Age (ou espiritualistas) que são caracterizadas pela natureza amorfa e
falaciosa de suas crenças assim como as religiões do Velho Aeon que são caracterizadas
por seus rígidos dogmatismo e sectarismo. A Lei da Liberdade é de tão longo
alcance que ele tem implicações em todas as facetas da vida incluindo
metafísica (como uma filosofia), ética (como um modo de vida) e teologia (como
uma religião), mas é tão elegante que pode ser resumida em uma única palavra,
Thelema.
II.
Tolerância
A fundamental Lei de Thelema é “Faça o que tu queres” que é uma
exortação radical para cada indivíduo explorar e expressar sua verdadeira
natureza seja ela qual for. Fundamentalmente, nós como Thelemitas defendemos o
direito de todos serem o que eles são. Isto envolve uma revolucionária forma de
tolerância ou aceitação da diversidade. Thelema em si mesma é parcialmente o
resultado de um sincretismo de muitas religiões e filosofias. É dito no Livro
da Lei, “Aum! Todas as palavras são sagradas e todos os profetas verdadeiros,
salvo apenas que eles compreendam um pouco”. Nós também podemos encontrar
referências de ideias judias, cristãs, mulçumanas, egípcias, gregas,
herméticas, budistas e hindus dentro do Livro da Lei em si mesmo, sem mencionar
os outros Livros Sagrados e escritos por Aleister Crowley. Isto mostra a
capacidade de Thelema de apreciar as verdades que são encontradas em diversas
ideologias em todo o mundo e ao longo da história.
Nosso sincretismo eclético não é arbitrário, na medida em que
tudo gira em torno do núcleo de “Faça o que tu queres”: fios são recolhidos de
todos os cantos da existência humana para ser tecido em conjunto através da
harmonia expressa na palavra da Lei que é Thelema. A aceitação tolerante de
diferentes pontos de vista é o que distingue Thelema de virtualmente cada outra
religião que tem aparecido na história humana. Isso pode ser visto muito
explicitamente na declaração dos direitos do Homem em “Liber Oz”, onde está
escrito: “O homem tem o direito de viver por sua própria lei – de viver da
maneira como ele quer”.
Nós somos radicais em nossa aceitação dos outros como eles são,
contudo eles podem pensar, falar ou agir, mas também podemos pegar armas contra
o dogmatismo, preconceito e superstição que impedirão a plena expressão da
liberdade da humanidade. Isto está encapsulado em uma citação onde Crowley
escreve: “Cada Estrela tem sua própria natureza, que é “Certa” para ela. Não
devemos ser missionários vestidos com os padrões de ideais e moral, e tais
ideias rígidas. Nós fazemos nossa Vontade e deixamos que os outros façam a
Vontade deles. Somos infinitamente tolerantes, livres
da intolerância”.
III.
Religião Científica
Thelema é completamente contra superstição e dogmatismo que são
obviamente uma parte de varias religiões e filosofias do passado. Não argumentamos
sobre quantos anjos cabem na cabeça de um alfinete, qual cor de roupas cria mal
karma num determinado dia, quantas vezes um mantra precisa ser repetido para
agradar um deus, ou quais ações serão favoravelmente julgadas por um Deus
Gasoso Todo Poderoso sentado nas nuvens.
Isto tem implicações em termos de ações (moralmente) e
pensamentos (filosoficamente). Moralmente, nós dissemos, “Faça o que tu queres há
de ser o todo da Lei”; isso coloca a responsabilidade nos indivíduos para encontrar
o que é certo para eles sem referência a quaisquer ameaças teológicas da
vergonha e da culpa do pecado, do fogo eterno do inferno da condenação, de uma
resposta desfavorável de um deus, ou mesmo de ter uma reencarnação como um
inseto. Filosoficamente, não afirmamos qualquer coisa que é flagrantemente
contraditória com base no conhecimento da humanidade, especialmente em termos
da ciência moderna. Há uma abundância de casos de pessoas que deliberadamente
negam a evidência de coisas tão fundamentais como a evolução ou a teoria dos
germes. Por exemplo, não é difícil encontrar exemplos na América de teologia
velada sendo empurrado nas escolas sob o disfarce pseudocientífico de “Modelo
de Inteligência”. Histórias de pessoas – inclusive crianças – que morreram
porque seus pais não acreditavam na capacidade da assistência médica. Em
contraste, Thelema é uma “religião científica” que fala com as vicissitudes da
experiência humana que muitas vezes chamamos de “religião” ou “espiritualidade”,
mantendo-se fiel ao progresso do conhecimento humano, que muitas vezes chamamos
de “ciência”. A great article (ainda sem tradução para o
português) foi recentemente escrito sobre como Aleister Crowley previu Thelema
como uma religião científica que eu recomendo caso você se interesse em saber
mais sobre este aspecto particular da Lei da Liberdade.
Além disso, Thelema é uma religião humanizada: colocamos a meta
de nossa aspiração dentro de nós mesmos e aceitamos os outros como eles são.
Como já escrevi em outro lugar: no Aeon de Isis, o foco foi a Natureza, no Aeon de Osíris o
foco era Deus, e agora no Aeon de Hórus o foco é o Homem, o indivíduo. Nosso Objetivo
é a expressão mais completa de nós mesmo na Verdadeira Vontade, o nosso Caminho
é para a totalidade mais profunda de nós mesmos, e nossa Comunidade não está no
Paraíso, nem em deuses ou semideuses, ou em algum plano do “Além”, mas sim os
homens e mulheres aqui sobre a Terra. Este ideal está encapsulado na poderosa
frase, “Não há deus senão o homem”.
IV.
Abraçando o mundo
ao mesmo tempo em que transcende o materialismo
Thelema abraça o mundo na medida em que nós não acreditamos que
prazeres sensuais são demoníacos ou maus, e não acreditamos que existência ou
encarnação ou consciência é algo para ser aniquilado ou transcendido. Esta
atitude está encapsulada no Livro da Lei onde está escrito, “Seja forte, oh
homem! Arda, usufrua todas as coisas de sentido e êxtase: não tema que qualquer
Deus te negará por isso”. Como eu tenho dito em outro lugar: A Terra não é uma prisão, mas um templo onde o sacramento da
vida pode ser promulgado; o corpo não é corrupto, mas um vaso próspero e
pulsante para a expressão da Energia; sexo não é pecaminoso, mas um condutor
misterioso de prazer e poder assim como uma imagem da natureza extática de toda
Experiência.
Enquanto abraçamos o mundo, não caímos na armadilha do
materialismo mesquinho. Isto é visto em nossa distinção entre querer – os nossos
desejos conscientes, os desejos e caprichos que constantemente vêm e vão – e a
Verdadeira Vontade. Nós abraçamos o mundo não para ter mais, ou maiores ou
coisas brilhantes, mas como uma expressão de nossa natureza e a celebração da
alegria da existência. Esta ideia foi tratada com mais profundidade num outro artigo recente, que pode ser lido caso você
queira saber mais sobre este assunto em particular.
V.
Sexualidade
De acordo com o que foi dito antes sobre tolerância e aceitação,
Thelema especificamente abraça todas as formas de identidade, orientação,
exploração e expressão sexual que está de acordo com a Vontade do indivíduo.
Thelema é um modo de vida que explicitamente encoraja as pessoas a ser o que
elas são sexualmente, e não para viver de acordo com algum padrão ditado pela
religião ou sociedade. Não vemos qualquer particular identidade de gênero ou de
orientação sexual como mais natural ou superior de qualquer modo. A melhor
identidade é a que mais claramente e plenamente é uma expressão de sua
natureza. Nós vemos isso encapsulado no Livro da Lei onde está escrito, “tomai
vossa fartura e vontade de amor como vós quiserdes, quando, onde e com quem
quiserdes!”.
Crowley estava muito à frente de seu tempo, desta forma, por
exemplo, ele escreveu no início do século XX, “A
Besta 666 pela Sua autoridade ordena que todo homem e toda mulher, e cada
indivíduo bi e homossexual, deve ser absolutamente livre para interpretar e
comunicar seu Self por meio de qualquer prática sexual, direta ou indiretamente,
racional e simbólica, fisiologicamente, eticamente, ou religiosamente aprovada
ou não, contanto que todas as partes em qualquer ato estejam plenamente
conscientes de todas as implicações e responsabilidades dos mesmos, e concordam
plenamente com os mesmos”. Devemos nos lembrar de que – como um exemplo muito
pequeno – mais de meio século depois, a Associação Americana de Psicologia
parou de rotular a homossexualidade como uma forma de doença mental. Nós, como
Thelemitas assumimos a bandeira da aceitação das pessoas como elas são não
importa como elas podem optar por definirem-se e expressarem-se sexualmente.
VI.
Drogas
Thelemitas não evitam o uso de álcool e drogas com base em
fundamentos filosóficos, morais ou teológicos. Thelema não tem proibições
contra as drogas (ou nada, na verdade), desde que o que você esteja fazendo
esteja de acordo com sua Vontade. Isso exige que as pessoas assumam a
responsabilidade por suas escolhas. Eu frequentemente penso que vale dizer: “Faça
o que tu queres... e arque com as consequências”, porque dizer: “Não há nenhuma
lei além do Faze o que tu queres” não dá nenhuma forma de te absolver das consequências
de sua ação; a lei de Thelema de nenhum modo revoga a lei de causa e efeito. O
abuso de uma substância pode levar ao vício, o mau uso de uma substância pode
levar a um desequilíbrio mental, e o uso consciente de uma substância pode
levar a saltos imensos em autoexploração e autocompreensão. Cabe a cada um se
informar sobre o uso de drogas e fazê-lo de modo responsável com a intenção de
encontrar, explorar e expressar suas verdadeiras naturezas.
Numa época em que o uso de drogas psicodélicas só foi realmente
explorado pelo seu potencial terapêutico nos últimos 5-10 anos, esta é também
uma abordagem radical para as drogas. Temos o próprio vício de Crowley, a
história do excesso e abuso de drogas, como pode ser visto estereotipado no
final dos anos 60 e, possivelmente, as nossas próprias experiências e daqueles
que nos rodeiam para nos alertar sobre o abuso de drogas. Por outro lado, temos
sucessos próprios de Crowley, uma longa história de sucesso da experimentação
com drogas, bem como nossas próprias experiências e daqueles que nos rodeiam
para nos lembrar do potencial distinto do uso de drogas em harmonia com nossas
Vontades. Clique aqui para ler mais sobre a abordagem de Thelema em relação as
drogas.
VII.
Aleiter Crowley
Eu acredito que Aleister Crowley é exatamente o profeta que nós
precisamos nesta época e dias por uma razão fundamental: ele era um ser humano.
Ele era um gênio, mas ele era um ser humano (apesar de suas tentativas em ser
lembrado como um mito solar!). Crowley extrapolou os limites em praticamente
todas as categorias de vida e para que pudéssemos admirá-lo desse maneira, mas
também vemos coisas que nos desafiam. Crowley jogou com praticamente todos os
tabus que pudesse encontrar e, dessa forma, ele nos desafia a enfrentar nossos
próprios demônios e encontrar nossas próprias crenças sobre como devemos viver.
Nossa reação à Crowley pode ser visto como um microcosmo de nossa reação a
tabus em geral. Esta é uma tarefa importante, em que cada indivíduo pode se
envolver: o que Crowley fez ofende particularmente nossos sentimentos? Em quais
coisas ele foi “longe demais” ou “demasiado”, e – mais importante – examinar por
que você acredita que ele foi longe demais. Desta forma, ao estudar a nossa
reação ao profeta de Thelema que podemos aprender mais sobre os nossos próprios
pontos cegos, limites e fronteiras.
O comportamento às vezes ultrajante de Crowley também nos lembra
de que não devemos o imitar de qualquer maneira; que nós devemos encontrar
nosso próprio caminho. É sobre isso que Thelema trata. Thelemitas estão unidos
em uma busca mútua para encontrar nossos Eus. Não estamos todos tentando ser
Crowley como cristãos tentam ser como Cristo ou budistas como Buda; todos nós
estamos tentando ser quem realmente somos e é isso o que nos diferencia.
VIII.
Alegrai-vos!
Num documento que eu acredito que cada
Thelemita deveria ler por sua clareza e contundência, Crowley escreveu que um
de nossos deveres é “Alegrai-vos!” Thelema é uma religião de alegria e beleza.
Humor é nossa armadura e os risos a nossa arma. Já não olhamos para a
solenidade e autoanulação, como sinônimos de espiritualidade. Thelema é uma lei
da liberdade que possui as chaves para destravar o potencial inato de cada
indivíduo, para nos libertar do fardo de tristeza e medo, e nos permitirmos sermos
nós mesmos e nos alegrarmos nisso. Como diz o Livro da Lei: “Lembrar todos vós
que a existência é pura alegria”. E com este conhecimento, podemos
conscientemente e voluntariamente nos engajar nesse último sacramento que
conhecemos como existência. Por isso, digo com Crowley: “Olhe, irmão, nós somos
livres! Alegre-se comigo, irmã, não há nenhuma lei além do Faça o que tu queres!”.
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